O Judô tem origem em diferentes estilos de Ju-Jutsu japonês, as artes marciais dos samurais. A história do Judô tem início nessa arte de combate centenária embora tenha sido criado apenas no final do séc XIX. Conheça a história dessa arte marcial e descubra detalhes sobre quem fundou o judo.
História do Judô
O Ju-Jutsu Japonês, que não podemos confundir com o Jiu Jitsu Brasileiro, é o nome genérico dado para a forma de combate sem espada desenvolvido e praticado por samurais durante o período feudal do Japão, o Xogunato. É importante conhecer esse contexto histórico para entender as condições e transformações que permitiram o Judô florescer.
Durante o Xogunato, o poder estava intrinsecamente ligado à propriedade de terra, por isso era tão importante a força militar que defendesse as terras, e mantivesse o poder do Xogun, ou os senhores feudais, os Damyos. Nesse contexto surgiram os Samurais, os guerreiros de elite, assim como o Bushido, o caminho do guerreiro, um código de conduta rigoroso adotado pelos samurais.
Embora bushido tenha se tornado um código de certa maneira único e que permitiu a classe samurai a ganhar reputação e respeito de seus pares e mestres, o poder de combate e por tanto a arte de combate era um diferencial essencial, seja para um samurai, uma família de guerreiros ou por uma região. Por isso, o Ju-Jutsu na verdade não era uma técnica de ensino padronizado e comum a todos no japão, mas eram estilos diferentes passado muitas vezes em segredo dentro desses núcleos de interesse.
Para os que já viram o uma armadura Samurai, como no famoso filme com Tom Cruise “ O último samurai ”, consegue imaginar que infringir qualquer dano relevante a um samurai com socos e pontapés seria muito difícil para não dizer impossível. Por isso, o Ju-Jutsu se desenvolveu com a filosofia de manipular a força do oponente contra ele mesmo ao invés de ir contra a resistência da armadura, originando uma arte marcial especializada em técnicas de agarramento, arremessos, projeções, varreduras, chaves nas articulações, imobilizações e estrangulamentos. O Ju-Jutsu era treinado para enfrentar outros guerreiros armados com espadas e lanças e podia incluir em suas técnicas a utilização de armas menores focando pontos vitais após quedas e imobilizações.
Com o passar dos anos e a decadência da classe guerreira, surgiram grupos ou escolas de Ju-jutsu que além de passar os ensinamentos para as novas gerações, se desafiavam em combates não letais criando o pano de fundo para o que viria a ser as artes marciais modernas japonesas.
Em 1968 sobe ao poder o imperador Mutsuhito e inicia-se o período da restauração meiji, que restaura o poder do imperador mas principalmente promove drásticas mudanças político-culturais de reformas nacionais a fim de levar o Japão a modernidade. Dentre essas mudanças está a abolição do sistema han, a tradição feudal japonesa, e uma forte transformação nacionalista que negava diversos aspectos do que era considerado culturalmente “antigo”, como por exemplo, o fim da classe e privilégio dos samurais, que passaram a pagar impostos e foram proíbidos de andarem armados.
Essa mudança teve tantos atritos que gerou uma rebelião por parte dos samurais descontentes com a perda de privilégios, a Rebelião de Satsuma retratada no filme O Último Samurai.
É durante esse período de grande nacionalismo, fortalecimento militar, investimento na educação e indústria que cresceu Jigoro Kano, a figura mais importante na história do Judô. Um homem versado em alguns estilos de Ju-Jutsu que reconhecendo os movimentos sócio-culturais pelos quais o país passava percebeu que o tempo das artes marciais como apenas defesa pessoal estava chegando ao fim, e desenvolveu um estilo de luta focado não apenas em defesa pessoal, mas em desenvolvimento pessoal, retirando as técnicas mais perigosas e moldando o novo estilo em uma filosofia maior e mais moderna que apenas o combate. Assim nascia o Judô.
Quem criou o Judô?
Quem fundou o Judo foi Jigoro Kano. Nascido em 1860 no vilarejo de Mikage, Jigoro Kano era filho de samurai e iniciou seus estudos de Jujutsu muito cedo.
Durante a adolescência e início da vida adulta ele se dedicou a aprender o estilo Tenjin shinyo-ryu de Ju-Jutsu, um estilo popular no japão que ensinavam como tantos outros as técnicas de atemi-waza (técnicas em pontos vitais), nage-waza (técnicas de projeção), torae-waza (técnicas de imobilização) e shime-waza (técnicas de asfixia).
Posteriormente Kano passou a praticar o estilo Kito-ryu, outro estilo tradicional que se diferenciava do Tenjin shinyo-ryu principalmente por manter a tradição de praticar as técnicas em oponentes com armaduras. Foi no contexto histórico apresentado anteriormente e questionando de maneira crítica e científica os estilos e professores de Ju-jutsu que havia praticado que Jigoro Kano desenvolveu o Judô.
Em seu Livro Kodokan Judo, falando sobre a história do Judo, Jigoro Kano escreve “Quando eu percebia diferenças nas formas de ensino das técnicas entre um professor e outro, em geral me sentia perdido, sem saber qual era a correta. Isso me levou a procurar um princípio que delineasse o Ju-jutsu, um princípio que fosse aplicado sempre que atacasse o oponente. Após um abrangente estudo sobre o assunto, percebi um princípio único que unia tudo: era necessário fazer o uso mais eficiente da energias mental e física. Com esse princípio em mente, estudei novamente todos os métodos de ataque e defesa que tinha aprendido, mantendo apenas aqueles que estivessem de acordo com esse princípio. Descartei os que não estavam de acordo e substituí-os por técnicas que o princípio estava corretamente aplicado. Ao conjunto de todas as técnicas resultantes chamei então de Judô, para distinguir da arte predecessora, e é ela que nós ensinamos na Kodokan.”.
Jigoro Kano, muito estudioso, falava quatro línguas: japonês, francês, alemão, inglês e espanhol e era formado pela Universidade Imperial de Tóquio, em Letras e ciências estéticas e morais. Através da dedicação ao ensino conseguiu fazer do Judô um dos esportes mais conhecidos do mundo.
Um momento importante na história do Judô foi a introdução do ensino de Judô na grade da polícia japonesa, a partir daí essa arte marcial ficou cada vez mais conhecida.
Jigoro Kano implantou práticas que influenciaram outras artes marciais, de forma que a história do Judô se encontra com a história do jiu-jitsu brasileiro e a história do karate. Como exemplo dessas práticas transformadoras temos a adoção do Judô-gi e do sistema de faixas. Além disso, foi Jigoro Kano um dos grandes apoiadores de Gichin Funakoshi, considerado o pai do karate moderno.
E se Gichin Funakoshi é considerado o pai do karate moderno, Jigoro Kano é ainda hoje considerado o pai da educação física no Japão, reconhecido como o maior incentivador da seleção olímpica japonesa e pelo seu papel na introdução reformas no sistema educacional colocando o desporto e a Educação Física no plano educacional do Japão.
Kano contribuiu grandemente para o desenvolvimento das artes marciais como esporte no Japão e no mundo, se tornando presidente do Butokukai em 1899, órgão responsável por estudar, padronizar e regular as artes marciais no Japão. Em 1909 se torna o primeiro representante do Japão como membro do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Já em 1911 é eleito presidente da Federação Desportiva do Japão. Em 1922 integra a Câmara Alta do Parlamento Japonês. Por fim, em 1928 participa da Assembléia Geral dos Jogos Olímpicos de Amsterdã e em 04/05/1938 morre, por problemas pulmonares, a bordo do navio transatlântico “Hikawa Maru” que o transportava do Cairo onde havia presidido a assembléia geral do comitê internacional dos jogos olímpicos, 26 anos antes de o Judô ter sua estréia em uma olimpíada.
Por suas contribuições Jigoro Kano recebeu a honraria da Ordem do Sol Nascente 3a classe.
Onde foi criado o Judô?
O Judô foi criado em Tóquio, a capital do Japão, mais especificamente na região de Eishoji, que fica no bairro de Bunkyo. Foi nessa região que Jigoro Kano fundou a primeira escola de Judô, o Kodokan, onde ele começou a ensinar suas técnicas inovadoras e a desenvolver o Judô como uma arte marcial distinta.
Atualmente, o Kodokan é um centro mundial de treinamento e pesquisa em Judô e é considerado uma instituição de extrema importância para a história do Judô e de tantas outras artes marciais.
Quando o Judô foi criado?
O Judô foi criado por Jigoro Kano em 1882, mais especificamente em 28 de julho de 1882, quando não havia completado ainda 22 anos de idade, já que nasceu em 10 de dezembro de 1860. São quase 150 anos de história do Judô.
Qual é a origem do nome judô?
O nome “Judô” vem da junção de duas palavras japonesas: “ju” que significa “suavidade” ou “flexibilidade”, e “do” que significa “caminho” ou “princípio”, esse é o mesmo “do” encontrado em Kendo, Aikido ou Karate-do . Juntos, “ju” + “do” significam “caminho da suavidade” ou “caminho da flexibilidade”.
O fundador do Judô, Jigoro Kano, escolheu esse nome porque queria enfatizar a ideia de que o Judô não se baseava apenas na força bruta, mas sim na habilidade de usar a força do oponente a seu favor. Em vez de resistir ao ataque do adversário, o Judô ensina a desviar, controlar e redirecionar sua força para vencê-lo. Assim, o nome “Judô” reflete a filosofia e os princípios básicos da arte marcial.
Qual a filosofia do judô kodokan?
A filosofia do Judô Kodokan é baseada em dois princípios fundamentais: o máximo aproveitamento de energia e a gentileza ou benevolência. Esses princípios foram estabelecidos pelo fundador do Judô, Jigoro Kano, e são ensinados com grande ênfase na prática do Judô até hoje.
De acordo com o livro Kodokan Judo do próprio Jigoro Kano, o primeiro princípio, conhecido em japonês como “Seiryoku Zenyo”, ensina que devemos buscar o máximo aproveitamento de nossa energia física e mental. Isso significa que devemos aprender a usar nossa energia de forma eficiente e eficaz, para que possamos atingir nossos objetivos com o mínimo esforço possível. Isso é aplicado no Judô através das técnicas de projeção, imobilização e estrangulamento, que buscam controlar o oponente com o mínimo de esforço possível.
O segundo princípio, conhecido em japonês como “Jita Kyoei”, enfatiza a ideia de que devemos buscar o bem-estar comum, tanto para nós mesmos quanto para os outros. Isso significa que devemos tratar nossos adversários com gentileza e respeito, e que devemos buscar a harmonia e o equilíbrio em todas as nossas relações. Esse princípio é aplicado no Judô através do treinamento de respeito mútuo, autocontrole e cooperação. Um princípio que buscamos nutrir em toda a comunidade artista marcial.
Esses princípios são essenciais para a prática do Judô e moldaram a história do Judô até aqui. Através da prática do Judô, é possível absorver e aplicar esses princípios em nossas vidas cotidianas, buscando sempre o máximo aproveitamento de energia e sendo gentis e benevolentes com os outros.