Artes Marciais que influenciaram o Karate

As principais artes marciais que influenciaram o Karate, ou mais específicamente a origem do Karate, foram as artes marciais chinesas, ou de maneira mais genérica o Kung-fu, e as técnicas de combate originais de okinawa. Ainda assim, podemos considerar influências do Judô, do Jiu Jutsu Japonês, do Savate e do boxe.

Acompanhe e aprofunde seus conhecimentos sobre essa arte marcial fascinante e descubra as principais influências que moldaram a origem do Karate

A Influência das artes marciais chinesas no Karate

Se você já leu o artigo “História do Karate – Entenda como tudo começou“, então sabe que a origem dessa arte marcial japonesa está intimamente ligada às artes marciais chinesas. Os historiadores apontam que uma das principais evidências disso são os exemplares dos livros chamados de Bubishi, uma espécie de almanaque de combate que era transmitido através de cópia manual por gerações de mestres e aprendizes.

Uma das melhores traduções desse material foi feita por Patrick McCarthy, no livro “Bubishi: the classic manual of combat”. Nele, é possível estudar as influências do kung fu dos estilos da Garça Branca e dos Punhos do Monge, além de ter acesso às figuras rudimentares das 48 técnicas de Quan. As figuras retratam dois guerreiros com vestimentas chinesas representando determinadas posições de combate.

Essa conexão entre as artes marciais chinesas e o Karate tem um impacto significativo no treinamento dos praticantes dessa arte. Ao estudar os ensinamentos do Bubishi, é possível compreender as bases do Karate e aprimorar as técnicas usadas em combate.

A Influência das formas de combate nativas de Okinawa no Karate

As formas de combate nativas de Okinawa remontam ao início do século XVII e são encontradas em documentos históricos, como o “Chūzan Seikan” e o “Ryukyu Kempo Mokuroku”. Esses documentos descrevem técnicas de luta desarmada, incluindo golpes com as mãos, pés e cotovelos, bem como técnicas de projeção e imobilização.

Os habitantes de Okinawa desenvolveram essas formas de combate para se defenderem de invasores estrangeiros e para resolver conflitos internos. Uma das características distintivas dessas formas de combate é o uso de golpes curtos e rápidos, em vez de golpes longos e expansivos.

Para saber mais sobre as formas de combate nativas de Okinawa, uma fonte útil é o livro “Okinawan Martial Traditions” de Andreas Quast. O livro explora a história e as técnicas de luta de Okinawa, incluindo a influência do Kung Fu chinês e a evolução do Karate moderno.

A Influência do Judô no Karate

Quando Gichin Funakoshi chega ao Japão em 1922 para a famosa apresentação de Okinawa no Butokukai, ele é convidado por Jigoro Kano, criador do Judô, em 1924 para uma demonstração de karatê no Kodokan. A partir daí, surge uma amizade entre Funakoshi e Kano que serve de ponte para a influência do Judô no Karate.

Na época, o Japão ainda seguia muitos preceitos que surgiram durante a restauração Meiji, incluindo a Dai Nippon Butokukai, uma organização que buscava regulamentar e padronizar as práticas marciais. O Judô, que já havia se ajustado às diretrizes da organização, transmitiu ao Karate, por meio de Jigoro Kano e Gichin Funakoshi, ferramentas para melhorar a prática, como a adoção de vestimentas padronizadas, o Karate-gi, semelhantes às utilizadas no Judô. A implementação de um sistema de graduação com faixas, facilitando a mensuração do nível de desenvolvimento dos alunos e proporcionando uma melhor organização dos critérios de evolução e técnicas esperadas em cada estágio. Além disso, houve a mudança do termo Karate-jutsu para Karate-do, assim como no Judô, Kendo e Aikido, representando uma filosofia de aperfeiçoamento de caráter para toda a vida.

É importante ressaltar que Gichin Funakoshi não foi o primeiro a utilizar o termo Karate-do, mas a sua adoção foi influenciada pela percepção de como a adoção do “do” foi fundamental para a disseminação do Judô. 

A influência do Judô no Karate se estendeu muito além da implementação de um sistema de graduação. A união dessas duas artes marciais contribuiu para o desenvolvimento do Karate moderno, incluindo técnicas de quedas e projeções, além de enfatizar a importância do treinamento mental e da autodisciplina. O livro “Karate and Judo: A Contrast in Styles”, escrito por Harry Cook, explora as diferenças e semelhanças entre as duas artes marciais, destacando como a influência do Judô ajudou a moldar o Karate que conhecemos hoje.

A Influência do Jiu Jutsu japonês no Karate

Além de  Jiu Jutsu japonês ser ponto de partida para a origem do Judô cuja a influência já foi citada acima, ele também tem forte influência na criação do primeiro estilo de Karate criado na ilha principal do Japão, o Wado-ryu.

Um dos maiores e mais difundidos estilos de Karate, o Wado-ryu foi desenvolvido por Hinoroni Otsuka que ao começar a praticar Karate já era mestre no estilo Shindo Yoshin-ryu de jiu jutsu. Otsuka incorporou técnicas de Jiu Jitsu em seu estilo de Karate, incluindo técnicas de projeção, arremessos e estrangulamentos. Ele enfatizou a importância de movimentos naturais e fluidos em suas técnicas de Karate, que foram influenciadas pelo seu treinamento em Jiu Jitsu.

Em seu livro “Wado-Ryu Karate”, Otsuka escreveu sobre a influência do Jiu Jitsu japonês em seu estilo de Karate. Ele enfatizou que as técnicas de Jiu Jitsu eram uma parte essencial do Wado-ryu, permitindo que o estilo fosse mais completo e eficaz em todas as áreas de combate fazendo com que muitas técnicas fossem adotadas e difundidas nas formas de combate por pontos das competições esportivas  de alto desempenho.

A Influência do Savate (Boxe Francês)  no Karate

Seja por uma inquietação própria ou por questionamento de um colega ou aluno, mas você já deve ter se deparado com a seguinte questão: Por quê não temos mawashi-gueri (chute circular) nos katas tradicionais ?
Uma pergunta muito razoável, já que esse chute é matéria obrigatória em praticamente todos os exames de graduação, além de ser muito utilizado nas competições esportivas de Karate. Veja por exemplo a polêmica cena que rendeu ao atleta iraniano Sajad Ganjzadeh a medalha de ouro na primeira participação do Karate nas olimpíadas. A vitória veio por um Hansoku, uma penalização para seu adversário Saudita Tareg Hamedi, por um excesso de contato na aplicação de um  mawashi-gueri na cabeça. 

Ora, se é um chute tão importante na prática moderna, por que não o observamos nos katas tradicionais, maior fonte de transmissão do conhecimento e técnicas do Karate? Por que o mesmo acontece com ura-mawashi e ushiro-gueri jodan ?

Isso acontece porque esses chutes só passaram a ser incorporados no Karate muito depois dos katas tradicionais terem sido criados e difundidos pelos mestres fundadores dos principais estilos de Karate. 

A teoria mais aceita é que os chutes foram copiados do Savate, o boxe francês, um arte marcial desenvolvida em meados de 1820 na França em um contexto de proibição do uso de espadas. Os franceses desenvolveram um método de combate onde  utilizavam os pés como se fossem as esgrimas, utilizando golpes circulares e estocadas a fim de acertar pontos vitais do oponente, incluindo pescoço e cabeça. O Savate se desenvolveu e se espalhou pelo mundo eventualmente chegando ao Japão, ganhando um interesse particular por Yoshitaka Funakoshi, filho de Gichin Funakoshi.

Não é possível afirmar que tenha sido ele o único responsável pela introdução desses chutes ao Katare, mas a evidência histórica mais aceita é que a imagem mais antiga encontrada é uma foto sua praticando o mawashi-gueri. Desde então esses chutes foram absorvidos e incorporados na prática do Karate e hoje são ensinados como peça fundamental da arte marcial.

A Influência do Boxe no Karate

Durante o final do século XIX, o Japão passou por uma transformação significativa com a Restauração Meiji, que visava modernizar e ocidentalizar a sociedade japonesa. Nesse período, houve uma grande influência americana na cultura japonesa, que se refletiu em várias áreas, incluindo as artes marciais.

Foi durante essa época que o boxe foi introduzido no Japão pelos soldados americanos, que estavam estacionados no país. A técnica de punho rápida e poderosa do boxe despertou o interesse do público já que no Japão, diversas formas de combate já eram bem estabelecidas e difundidas como o Sumo, o jiu justsu e o Judô, porém todas com fortes características de agarramento, torções e projeções. 

O Karate, que originalmente também possui essas técnicas apresentava ao Japão uma alternativa de arte marcial nacional com técnicas de socos para ocupar o espaço gerado pelo boxe americano. 

Um dos principais exemplos dessa influência foi a incorporação do conceito de “sparring” ou luta simulada, que foi inspirado na prática do boxe. Antes da introdução do boxe no Japão, o Karate era praticado principalmente como uma forma de defesa pessoal, sem a utilização de lutas simuladas. No entanto, com a influência do boxe, os praticantes de Karate começaram a incorporar o “sparring” em seus treinamentos, o que permitiu aprimorar suas habilidades de luta em uma situação mais realista.

Outra forma pela qual a influência do boxe se fez sentir no Karate foi através da adoção de novos equipamentos de treinamento, como os sacos de pancadas e os protetores de punho. Esses equipamentos eram utilizados pelos praticantes de boxe, mas foram adaptados para atender às necessidades dos praticantes de Karate, permitindo que eles treinassem seus socos com mais eficácia.

No entanto, essa adoção de técnicas de boxe no Karate também teve um efeito negativo, já que afastou o Karate das suas raízes de técnicas de curta distância. Isso pode ser visto na redução do número de técnicas de agarramento e projeção nas práticas de Karate, que foram gradualmente substituídas por técnicas de soco e chutes. Isso pode ter comprometido a eficácia do Karate em situações de combate de curta distância, mas ao mesmo tempo ajudou a torná-lo mais popular entre o público em geral.

A Influência do Kendo no Karate

Existem algumas teorias sobre a influência do Kendo no Karate, embora não haja consenso entre os especialistas. Uma das teorias é que o Kendo teria influenciado o Karate em termos de filosofia e atitude mental, com seu foco na disciplina, no autocontrole e no desenvolvimento conjunto da mente e do corpo.

Outra teoria é que o Kendo teria influenciado o Karate em termos de técnicas de espada, com algumas técnicas de Karate sendo baseadas em movimentos de espada. Por exemplo, o kata Kusanku ou Kushanko ou Kanku-dai, um dos mais avançados do Karate, é supostamente baseado em uma forma de combate com uma espada curta chamada kusarigama.

No entanto, é importante ressaltar que essas teorias ainda são objeto de debate entre os historiadores do Karate e que não há evidências conclusivas que comprovem a influência direta do Kendo no Karate. Para se aprofundar sugerimos o livro “Karate and Kendo: Traditions and Modernization” de Alexander Bennett

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